A Lenda dos dois Potes

 



Era uma vez uma jovem menina que trabalhava para um comerciante que vivia no topo de uma montanha. A menina cuidava da casa e todos os dias tinha de descer a montanha para ir buscar água ao rio.

Para essa tarefa usava dois potes que amarrava, um de cada lado, num pau de bambo que colocava aos ombros, facilitando o transporte da água.

Com o tempo um dos potes acabou por fazer uma pequena rachadura. A menina observou e decidiu que ainda daria para usar o pote por mais tempo.

Então, todos os dias a menina carregava os dois potes até ao rio, enchia-os de água e regressava ao topo da montanha, carregando-os aos ombros com a ajuda do pau de bambu.

Sempre que a menina chegava ao topo da montanha, o pote rachado tinha perdido metade da água, enquanto o outro pote continuava cheio.

O pote rachado olhava para o outro pote, cheinho de água, e começou a sentir-se mal e inútil. O pote cheio estava feliz por conseguir carregar bastante água e o pote rachado sentia-se envergonhado por não conseguir ser tão eficiente.

Os anos iam passando e o pote rachado sentia-se um fracasso.

Um dia ganhou coragem e na beira do rio decidiu falar com a menina, dizendo-lhe:

- Menina, desculpa-me pelas minhas falhas e pelas minhas imperfeições. A rachadura em mim tornou-me inútil e já não sirvo para mais nada.

A menina sentiu-se incomodada com o que acabara de ouvir e respondeu-lhe:

- Vejo que em todo este tempo não prestaste atenção. Quando voltarmos para casa, olha à tua volta e presta atenção a todo o caminho.

No caminho de regresso a casa, enquanto a menina carregava os potes com água, o pote rachado observou atentamente o caminho e pela primeira vez, em muitos anos, o pote deixou de olhar tanto para dentro dele e olhou para fora, para o mundo e reparou que do seu lado do caminho lindas flores e plantas tinham crescido, enquanto que do outro lado estava tudo seco.

Quando chegaram ao topo da montanha, a menina perguntou ao pote rachado:

- Viste as lindas flores do caminho? Viste que só nasceram do teu lado do caminho? Eu sempre soube das tuas rachaduras, mas eu aproveitei isso para dar água a estas lindas flores do caminho. Se tu não fosses exatamente do jeito que és, o caminho até aqui não seria tão bonito.

Então o pote rachado entendeu e encheu-se de alegria, deixando toda a tristeza ir embora. Entendeu que o que para ele era um defeito, na verdade era uma bênção para as plantas e para as flores ao longo do caminho.

Todos nós somos únicos e nenhum de nós é perfeito, mas são esses pequenos defeitos que nos fazem ser quem somos.

As borboletas, por exemplo, não conseguem ver a beleza das suas asas, mas nós conseguimos ver como elas são belas.

Talvez não consigamos ver o quão especial somos, mas eu sei que tu és especial.

Quando deixamos de ter pena de nós próprios, somos capazes de utilizar as nossas virtudes e as nossas imperfeições para tornar o mundo ainda mais bonito.

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